terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Fraternidade não é conivência


Onde quer que nos encontremos, para que haja equilíbrio e bem-estar nas relações, é preciso que exista a fraternidade. E esta, não deve ser aguardada que os outros a pratiquem, mas sim, que nós deemos sempre o primeiro passo.

Nem sempre vale à pena responder a uma acusação infundada ou dar atenção a comentários jocosos. Para a harmonia íntima, mas também de um grupo, na mais das vezes o silêncio é terapêutica eficaz que não só evita o crescimento de um mal, como também, pode até eliminá-lo. Contudo, é preciso muito esforço interior e buscar alimentar-se de conteúdos imorredouros que darão sustentação ao ideal fraterno. O Evangelho de Jesus, por exemplo, é precioso farnel a nutrir qualquer alma faminta. É Jesus quem nos afirma em Mateus, capítulo cinco, versículo seis: “Bem-aventurados os famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados”.

Porém, buscar a paz de um grupo social não é ser conivente com aquilo que de errado o grupo é acometido pelos seus próprios pares. O ideal de fraternidade nos convida é a não contender ou criar situações embaraçosas e de desgaste. Em nome da fraternidade devemos propor o diálogo e criar momentos propícios à autoanálise. Emmanuel[1], nos convida a compreender nesse sentido quando afirma que: “Boa vontade e cooperação representam as duas colunas mestras no edifício
da fraternidade humana. E contribuir para que a coletividade aprenda a pensar na
extensão do bem (grifo nosso) é colaborar para que se efetive a sintonia da mente terrestre com a
Mente Divina”.

Não podemos perder o senso crítico das coisas da vida. O que é errado é errado e precisa ser corrigido, porém, não se resolve um problema com a formulação de outro. Não se faz paz com guerra. Não se limpa com lama. É preciso recordar que não somos possuidores de virtudes que nos colocam em um patamar acima dos que nos cercam. Todos possuímos em maior ou menor grau, desvirtudes que nos desabilitam à posição de juízes das consciências alheias. Nosso papel, portanto, é o de irmãos que, observando algo não estar bem, silenciam para analisar e depois convidam os pares de convivência para a busca de uma solução ao mal que os aflige.

Silenciar primeiro para agir depois com mais segurança e propriedade. Nunca silenciar para sempre e ainda achar-se humilde. A conivência é um mal antagonicamente barulhento. Humildade não eximir-se de uma responsabilidade, antes sim, enfrentá-la, mas com a devida altivez. Joanna de Ângelis[2], sobre isso comenta que: “Quem assim se comporta, desvela-se como preguiçoso e não humilde, bem como aquele que aceita todos os caprichos que se lhe impõem, e embora pareça, não possui a humildade real, antes tem medo dos enfrentamentos, das lutas, sendo conivente com as coisas erradas por acomodação, por submissão ou por projeção do ego que se ufana de ser cordato, bom e compreensivo”.

Na Casa Espírita, por exemplo, não devemos nos furtar ao dever de pontuar aquilo que não está funcionando bem ou conversar com um companheiro de ideal que não está procedendo de forma correta. O que não devemos é criar fuxicos ou dirigir palavras indevidas sem a preocupação de ates ter buscado saber o porque das coisas e de que forma pode ajudar. A crítica mordaz nos reaproxima do farisaísmo de outrora, distanciando-os, portanto, do imperativo divino que pede-nos fazer ao próximo tudo aquilo que gostaríamos que nos fosse feito.

Quantos Centros Espíritas não já fracassaram em suas tarefas pelo rigor excessivo em nome de Kardec. Emmanuel[3] nos adverte, inclusive, que “quando se verifique a invasão da desarmonia nos institutos do bem, que os agentes humanos acusem a si mesmos pela defecção nos compromissos assumidos ou pela indiferença ao ato de servir. E que ninguém peça ao Céu determinadas receitas de fraternidade, porque a fórmula sagrada e imutável permanece conosco no amai-vos uns aos outros”.

Se cabe a nós a construção de um mundo melhor através do caminho da paz, urge-nos o dever de examinar tudo aquilo que nos cerca, agindo com fraternidade para resolução daquilo que ainda é lodo nunca deixando de observar que, se com paciência e tolerância as coisas as vezes parecem não melhorar, com a conivência ou a agressividade, também nunca hão de se resolver.

[1] XAVIER, Francisco C. Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1952. Cap. 144.
[2] FRANCO, Divaldo Pereira. Autodescobrimento: uma busca interior. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: Leal, ed. 17, 2013. Cap. 11.
[3] XAVIER, Francisco C. Pão Nosso. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1950. Cap. 10.

por Samuel Aguiar
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